sagrada escritura

Pe. Ivanir Rodighero

A Sagrada Escritura revela uma profunda conexão entre todos aqueles que compartilham a mesma casa comum. Nós, como seres humanos, somos parte integrante dessa comunhão. A Bíblia nos ensina que o ser humano tem a missão sagrada de zelar, cultivar e cuidar a criação, conforme descrito em Gênesis 1-2, quando o Senhor Deus contemplou a criação e viu que tudo era muito bom (Gn 1,31).

No entanto, enfrentamos um grande perigo quando negligenciamos nossa responsabilidade e, inadvertidamente, causamos danos que resultam em desequilíbrio. O apelo do profeta Amós ressoa em nossos corações: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Além disso, a carta aos Romanos 8,22-24 nos lembra que a própria natureza sofre como em dores de parto, ansiando por sua libertação. Nessa perspectiva, a mensagem de Romanos 8,22 é esclarecedora: não enfrentamos o sofrimento isoladamente no planeta, pois a casa é comum; aqui, compartilhamos alegrias e dores em conjunto. Paulo indica três elementos que apontam para uma nova realidade na obra da criação: os gemidos (da criação, os nossos e os do Espírito), a esperança e o próprio Espírito. Os gemidos da criação revelam uma situação que clama por mudança. Juntos, enfrentaremos as consequências de nossas escolhas, sejam elas boas ou más. Portanto, é necessário estabelecer uma integração entre todos, buscando o bem comum, para que cada um esteja comprometido com o cuidado da casa que compartilhamos.

Segundo Paulo, a criação não foi sujeitada por sua própria culpa, mas sim devido aos pecados humanos, resultado das escolhas erradas. Portanto, sua restauração requer a restauração do ser humano. A criação encontra-se sujeita e impactada pela “futilidade” das ações humanas, que a limitam, restringem e a submetem a sofrimentos, resultando em dores crescentes que se propagam como um efeito em cadeia: dor após dor, sofrimento após sofrimento. Além disso, a criação não experimenta sofrimento e lamentação isoladamente, como se estivesse desconectada de tudo e de todos, mas compartilha desses gemidos de maneira conjunta. A menos que ocorra uma intervenção para interromper essa trajetória, para libertar a criação deste penoso processo de parto, suas dores e angústias tenderão a se intensificar de forma descontrolada.

O Papa Francisco, por meio da encíclica “Laudato si”, emite um apelo urgente para que assumamos um compromisso constante com o cuidado de nosso lar comum. Ele nos exorta a reconhecer a interdependência de todos os elementos da criação e a adotar práticas que promovam a harmonia e a sustentabilidade. Destaca-se no texto o Capítulo V, intitulado “Algumas linhas de orientação e ação”, no qual Francisco delineia cinco áreas de diálogo, buscando soluções para a defesa da casa comum: diálogo sobre o meio ambiente na política internacional, diálogo para novas políticas nacionais e locais, diálogo e transparência nos processos decisórios, política e economia em diálogo para a plenitude humana e o diálogo das religiões com as ciências. Portanto, é fundamental que compreendamos o chamado contido na Escritura e na mensagem do Papa Francisco. Devemos esforçar-nos para ser guardiões responsáveis da Terra, cultivando um relacionamento de respeito e harmonia com a nossa casa comum e com todos os que nela habitam e compartilham este magnífico lar que Deus nos concedeu. Assumir essa responsabilidade é honrar não apenas a criação divina, mas também garantir um futuro saudável e equilibrado para as gerações vindouras. Como afirma o Apocalipse: “Eu renovo todas as coisas” (Ap 21,5). A esperança reside em nossa capacidade de agir em unidade, em prol da restauração e renovação da nossa preciosa Casa Comum.


Autor

Pe. Ivanir Rodighero

Presbítero da Arquidiocese de Passo Fundo. Professor na Itepa Faculdades. Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, SP.


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As opiniões expressas no presente artigo, são de total responsabilidade de seus signatários, não expressando a posição oficial da Igreja Particular de Vacaria.

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