Pe. Daniel Rodrigo Feltes

“Eu vim para que todos tenham vida em abundância!” (Jo 10,10), nos diz Jesus Cristo. O Plano de Deus é de vida para todos, não é qualquer vida, mas com dignidade, com as condições básicas para viver e com um sentido verdadeiro. Jesus é o bom pastor que nos conduz como Igreja, povo de Deus, para este Reino de vida plena e abundante. O conceito de sinodalidade nasce com a Igreja a ponto de ter um momento em que se afirmava que sinodalidade e Igreja eram sinônimos. De fato, ekklesia é uma assembleia reunida em vista de um projeto comum, e sinodalidade é caminhar juntos. Assim, já se entende que a Igreja caminha junto em vista do Reino de Deus, manifestado entre nós através de sinais, como bem expressam as parábolas bíblicas. Desta compreensão decorre a existência das Pastorais Sociais na Igreja, tais como a Pastoral Carcerária, da Saúde, da Pessoa Idosa, da Criança, da Pessoa Surda.

As Pastorais Sociais têm a missão de colaborar para que o Plano de Deus aconteça, desenvolvendo atividades concretas que viabilizem a transformação dos corações e das estruturas da sociedade em que vivemos, em vista da construção de uma nova sociedade em situações e realidades específicas. Elas concretizam em ações sociais a compaixão da Igreja diante de situações reais de marginalização. Buscam integrar em suas atividades a fé e o compromisso social, a oração e a ação, a religião e a prática do dia a dia, a ética e a política. Aliás, a fé cristã tem, necessariamente, uma dimensão social. Podemos destacar 4 aspectos da missão como Igreja na dimensão sócio-transformadora:

1) a sensibilidade para com os fracos e indefesos: é o coração aberto a todo tipo de sofrimento, às cruzes carregadas pelo povo, sejam pessoais ou coletivas. É romper com a cultura da indiferença e ver, escutar e acolher a dor do pobre sofrido.

2) a solidariedade frente a determinadas emergências: é a mão estendida às situações de emergência, de carência, de extrema pobreza, de fome. Além de ser sensível, é preciso descruzar os braços, arregaçar as mangas e passar à ação, em gestos, mutirões e campanhas de solidariedade; é a dimensão da assistência, que é dar o pão a quem está faminto. Na Arquidiocese de Passo Fundo há instituições que realizam esta assistência de forma organizada, como a Cáritas, a Fundação Lucas Araújo e Leão XIII.

3) o profetismo no combate à injustiça: é a postura crítica diante de um sistema sócio-político-econômico, é o questionamento das raízes e causas da pobreza, das injustiças e da desigualdade. Também é o trabalho de conscientização e organização dos oprimidos em vista da construção de uma sociedade justa, humana, solidária e fraterna. É a denúncia das injustiças e o anúncio do Evangelho!

4) a espiritualidade libertadora: é a fonte e sustento da caminhada. É a mística que nos faz interpelar pelo grito dos oprimidos e pelo chamado de Deus, que convida a uma ação libertadora no sentido de participar na construção de um mundo novo, de sermos de fato co-criadores, colaboradores da nova criação. É a espiritualidade que integra e torna mais fecundas a sensibilidade, a solidariedade e o profetismo.

O Papa Francisco tem dado testemunho e impulso para o trabalho das Pastorais Sociais. Um grande apoio veio com a instituição do Dia Mundial dos Pobres no domingo que antecede a celebração da Solenidade de Jesus Cristo Senhor e Rei do Universo. O Papa nos ajuda a compreender que tipo de Rei é Jesus, o Messias que se fez pobre para os pobres, que veio para dar a vida para que o projeto de libertação aconteça e que nos há de julgar por nossas obras de misericórdia (13 de novembro de 2022 – VI Dia Mundial dos Pobres: “Jesus Cristo fez-Se pobre por vós”, cf. 2 Cor 8, 9). A instituição do Dia Mundial dos Pobres é fruto do Ano Santo da Misericórdia e quer estimular a todos, crentes e pessoas de boa vontade, a reagir à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Portanto, ser Igreja é caminhar em comunhão (Koinonia)! Assumir as Pastorais Sociais é ser Igreja sinodal! Apoiando, colaborando, agindo de forma solidária e profética na sociedade, caminhamos juntos com Jesus Cristo crucificado presente nas diversas realidades. E a partir da cruz podemos apontar caminhos de ressurreição, de vida abundante para todos.


Autores

Pe. Daniel Rodrigo Feltes

Presbítero da Arquidiocese de Passo Fundo. Graduado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier – IFIBE. Graduado em Teologia pelo Instituto de Teologia e Ciência Humanas – Itepa Faculdade. É pós-graduado em Metodologia do Ensino Religioso pelo mesmo Instituto de Teologia e em Mariologia pela Faculdade Dehoniana. Atualmente é Pároco da Paróquia São José, na cidade de Passo Fundo/RS e articulador das Pastorais Sociais da Arquidiocese.

Imagem: Reprodução CNBB
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